Corpomídia e Intervenção Urbana

A imersão do corpo no ambiente é base de criação da Intervenção Urbana. Uma relação construtiva a partir da percepção amplificada do espaço e suas pulsações incessantes. Movido por uma força motriz “encarnada”, a experiência opera como base de criação e aprofundamento das relações com o meio. Corpo que interfere no espaço e elabora as interferências recebidas num ciclo incessante de criação.

Sendo o corpo o mediador dos processos de conhecimento e comunicação, entendemos o artista aqui como agente expansor de sentidos criativos ao conectar sua plena atividade corporal (pensamento, imaginação, percepção, emoção, fisicalidade etc) ao espaço e às demandas sócio-culturais de seu tempo para redesenhá-las no ambiente sob forma de representação simbólica.

Ao produzir relações contíguas com o espaço em tempo real, o Corpomídia leva consigo as informações constituintes de seus processos de assimilação e produção de sentidos. Informações que atravessam corpo são processadas e, ao se proliferarem, constróem mapas ricos em multiplicidade.

Identificamos assim um ciclo onde o corpo captura informações do ambiente externo (espaço urbano), recorta daí os seus focos de interesse (situação potencial) para resignificar a realidade na construção de suas poéticas, em novos e diversificados estados. Nesta linha, o corpo é ao mesmo tempo agente e resultante da experiência sensorial e motora envolvida no processo de apreensão da realidade. Dessa relação indissociável é que surge a construção artística tendo a ação direta como foco de sua vivência.

Christine Greiner (2003) em Da cozinha de Deus ás membranas virtuais do homem indica que a partir da construção de metáforas o corpo relaciona-se com o mundo e consigo mesmo, estabelecendo processos diversos de comunicação e em níveis diferentes. Ao construir metáforas, o homem age (aciona o sistema sensório-motor) e ao agir, abre a possibilidade de fazer ou desfazer o que foi conceituado antes, instaurando novas possibilidades de pensar e mover: corpo, idéias e mundo.

A essas intersecções entre corpo, ambiente e idéias, chamamos “situações potenciais”, ou seja, todo tipo de conflito, hábitos, práticas, fatos, objetos, cenários etc. que vão desprender-se de um fluxo contínuo para mesclar-se à construção simbólica proposta pelo artista. As informações, no entanto, nunca estão estanques. Serão devolvidas ao ambiente em formas diversas no qual “toda mensagem é emitida, transmitida e admite influências sob a sua interpretação, nunca é estático, mas uma espécie de contexto-sensitivo” 4.

Ao deslocar sentidos dentro do “contexto sensitivo” do espaço urbano, a Intervenção Urbana pode vir a configurar-se como prática disparadora de cognições em direções múltiplas, sendo que o corpo, no espaço público passa a ser também ele o próprio campo de experimentação. Deste modo, pensar os fundamentos da Intervenção Urbana é cogitar as inúmeras possibilidades de discurso de um corpo político e criativamente autônomo inserido em uma proposta coletiva de percepção e participação artística.